A grandeza do crer
Bento XVI voltou a discorrer várias vezes sobre o tema da fé. Nos seus bons votos de Natal à Cúria romana, ele disse: «O cerne da crise da Igreja na Europa é a crise da fé. Se não encontrarmos uma resposta para esta crise, ou seja, se a fé não ganhar de novo vitalidade, tornando-se uma convicção profunda e uma força real, graças ao encontro com Jesus Cristo, permanecerão ineficazes todas as outras reformas».
Do mesmo modo, durante a sua viagem à Alemanha, tinha observado: «Porventura será preciso ceder à pressão da secularização, tornar-se moderno através de uma mitigação da fé? Naturalmente, a fé deve ser repensada e sobretudo vivida hoje de um modo novo, para se tornar uma realidade que pertença ao presente. Para isso ajuda não a mitigação da fé, mas somente o vivê-la integralmente no nosso hoje. Esta constitui uma tarefa ecuménica central, na qual nos devemos ajudar mutuamente: a crer de modo mais profundo e vivo. Não serão as tácticas a salvar-nos, a salvar o cristianismo, mas uma fé repensada e vivida de modo novo».
Como se pode observar, duas ideias voltam com frequência: a fé deve ser repensada e vivida. O Ano da fé poderia constituir uma ocasião propícia a este propósito. Um verdadeiro kairos a aproveitar para permitir que a graça ilumine a mente e que o coração reserve espaço para fazer sobressair a grandeza do crer.
Uma mente iluminada deveria ser capaz, antes de tudo, de pôr em evidência os motivos pelos quais acreditamos. Nestas últimas décadas, este tema não foi proposto na teologia nem, por conseguinte, na catequese. Isto não é indolor. Sem uma reflexão teológica sólida, que seja capaz de produzir as razões do crer, a escolha do crente não será tal. Ela limita-se a uma repetição cansada de fórmulas ou de celebrações, mas não acarreta consigo a força da convicção. Não é somente questão de conhecimento de conteúdos, mas sim de liberdade.
Pode-se falar de fé como se se tratasse de fórmulas químicas aprendidas de cor. No entanto, quando falta a força da escolha sustentada por um confronto com a verdade sobre a própria vida, tudo se fragmenta. A força da fé é alegria de um encontro com a pessoa viva de Jesus Cristo que muda e transforma a vida. Saber explicar isto permite aos fiéis serem novos evangelizadores num mundo que se transforma.
O segundo termo utilizado por Bento XVI é uma fé vivida. Ela é tanto mais necessária, quanto mais se compreende o valor do testemunho. De resto, precisamente em referência à evangelização, Paulo VI afirmava sem hesitação que «o homem contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres... ou então, se escuta os mestres, é porque eles são testemunhas» (Evangelii nuntiandi, 41). Passaram décadas, e no entanto esta verdade permanece com uma carga de actualidade inalterada. O mundo de hoje tem fome de testemunhas. Sente necessidade vital delas, porque procura coerência e lealdade.
Estamos diante do tema do cor ad cor loquitur, que teve em Newman um verdadeiro mestre. Uma fé que traz consigo as razões do coração é mais convincente, porque tem a força da credibilidade. Portanto, o desafio consiste em poder conjugar a fé vivida com a sua inteligência, e vice-versa.
Rino Fisichella.